15 de março de 1985: a doença e o martírio do presidente Tancredo Neves
A semana na História

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15 de março de 1985: a doença e o martírio do presidente Tancredo Neves

A semana na História por Reginaldo Dias em 10/03/2025 - 11:50

Há exatos 40 anos, o Brasil vivia a expectativa do fim do período da ditadura militar instaurada em 1964, visto que, no dia 15 de março de 1985, tomaria posse o novo presidente da República, Tancredo Neves, que havia derrotado, no Colégio Eleitoral, o candidato oficial do regime. Havia o temor de que a transição não fosse completada por eventual atitude casuística do governo militar.

Tudo parecia caminhar para o desfecho aguardado, quando o país foi surpreendido, na véspera da posse do novo presidente, pela notícia de que Tancredo Neves havia sido internado, às pressas, acometido por fortes dores abdominais.

O impasse estava instaurado. A versão oficial divulgada era de que ocorrera uma crise de diverticulite. Perplexa, a sociedade especulava. Seria alguma artimanha da liderança militar para não entregar o poder? Tancredo Neves estava doente ou havia sofrido algum golpe contra a sua saúde, para impedir a posse? Se ele não estava em condições de participar da solenidade, haveria posse? Em caso afirmativo, quem tomaria posse? O presidente da Câmara? O vice de Tancredo?
Prevaleceu a interpretação de que, na ausência de Tancredo Neves, seu vice, José Sarney tomaria posse. Quando estivesse em condições, Tancredo assumiria a titularidade do cargo.

O general Leônidas Pires, que assumiu o Ministério do Exército, avoca para si a paternidade dessa interpretação do texto constitucional. Particularmente, não considero óbvia essa interpretação. Quando ambos estão empossados, o vice substitui o titular em suas ausências e impedimentos. Antes da posse, salvo melhor juízo, ele não tem prerrogativa para substituir, pois não há presidente nem vice. Seja como for, diante da delicada situação, teve peso o aval do representante das Forças Armadas para que o rito se cumprisse.

Para as forças oposicionistas que chegavam ao poder, essa parecia a solução prática viável. Qualquer outra variável poderia gerar situações fora do controle. Se Tancredo Neves se recuperasse rapidamente e assumisse a titularidade do cargo de presidente, esse episódio teria menos consequências. O problema é que ele passou a viver um martírio, submetido a sete intervenções cirúrgicas, e faleceu no mês seguinte.

Durante esse período de convalescença, novas especulações circularam. Em caso de doença de personalidades públicas, as pessoas tendem a considerar que as informações oficiais são adaptadas aos interesses políticos. Havia quem pensasse que o presidente estivesse morto e o governo não queria anunciar. Por isso, foi divulgada uma foto de Tancredo Neves com a equipe médica.

Pode-se especular por que Tancredo Neves não tratou da moléstia com a devida antecedência. Ao que tudo indica, ele tinha ciência de que convivia com um delicado problema, mas o agravamento do quadro coincidiu com o período de transição de governo. Mesmo sofrendo com as dores, ele preferiu não antecipar o tratamento para não gerar dúvidas sobre a posse.

Em 21 de abril, no dia de Tiradentes, Tancredo Neves faleceu. Investigações posteriores indicaram que se tratava de câncer, um leiomioma benigno, mas infectado. Devido ao óbito, José Sarney assumiu a titularidade da presidência.

Cultivando a esperança de um tempo melhor com o fim do regime militar, com a redemocratização do país e com o advento da Nova República, a sociedade viveu um luto intenso com a morte de Tancredo Neves. Ao luto se associavam as dúvidas de que quais seriam as chances de sucesso da Nova República, que nascia sem a liderança desse grande brasileiro. Dizem que não há história no subjuntivo. Por isso, nunca saberemos como seria um governo Tancredo Neves.

Ouça "A Semana na História" toda segunda-feira, com o professor e historiador Reginaldo Dias, às 11h50, com reprises às 14h50


 

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