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Em 28 de fevereiro de 1986, no início do segundo ano do governo Sarney, o país foi surpreendido com o anúncio de um ousado plano econômico, conhecido como Plano Cruzado, que garantia o congelamento dos preços como forma de quebrar a reprodução inercial do ciclo inflacionário, que estava fora de controle. No linguajar dos economistas, foi chamado de “choque heterodoxo”, pois os preços eram mantidos por intervenção direta do governo, e não pelas relações de mercado, como recomendavam as terapias ortodoxas. A ousadia do governo foi estimulada pelo tamanho da crise vivida pelo país.
Em 1985, no encerramento do longo período de 21 anos de governos militares, o Brasil se encontrava em situação de insolvência econômica. Havia uma combinação trágica de três fatores: recessão, dívida externa fora de controle e inflação astronômica. Desde 1980, a inflação anual atingira os três dígitos, ou seja, totalizava mais de 100%. Em 1983 e 1984, a inflação ultrapassou o patamar de 200%. Além de ter parado de crescer, o PIB apresentava indicadores negativos em alguns anos. A dívida externa disparava, estrangulando a economia nacional. De 1964 a 1985, a dívida externa saltara de 16% para 47% do PIB.
Angustiado com a aguda crise econômica e política, o povo depositava sua esperança no novo governo, comandado pelo PMDB e seus aliados. A morte inesperada do presidente Tancredo Neves, que sequer chegou a tomar posse, deixou uma grande interrogação sobre o futuro do governo. Sarney, o herdeiro do cargo, vinha do partido que sustentava os governos militares, e não tinha a autoridade e a liderança de Tancredo Neves.
Após um primeiro ano de governo ainda hesitante, o presidente Sarney anunciou o Plano Cruzado em fevereiro de 1986. Inicialmente, a população ficou chocada com o surpreendente plano econômico, mas foi um choque que gerou alívio e certa euforia. Passada a surpresa, o plano foi acolhido com entusiasmo pela população, cansada da espiral da inflação, dotando o presidente Sarney de elevada popularidade. Houve mobilização popular para fiscalizar o cumprimento do congelamento dos preços. Os voluntários foram chamados de “fiscais do Sarney”.
O congelamento deveria ser por curto tempo, para quebrar o ciclo de remarcação de preços que impulsionava a espiral inflacionária. Havia o planejamento de adoção de medidas estruturantes para que os preços se estabilizassem sem a necessidade da intervenção do governo. Aquele, porém, era ano eleitoral. O objetivo de ganhar a eleição adulterou a execução do plano, com a extensão do congelamento até o fechamento das urnas. Outras medidas que implicavam austeridade nos gastos públicos também foram postergadas ou descartadas.
A extensão do congelamento para além de um limite prudencial e a ausência de medidas complementares geraram efeitos colaterais, como desabastecimento e cobrança de ágio em alguns produtos, mas a popularidade do governo se manteve alta até a realização das eleições, influenciando seus resultados.
Supondo que o plano tivesse chance de êxito, essas manobras políticas comprometeram os seus resultados. Ainda houve tentativas de retomada do plano com novas edições, mas a ideia do choque heterodoxo saiu de pauta. A herança deixada pelos governos militares era tão pesada que só foi superada na década seguinte.
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